O Bhagavad-Gita
Capítulo dezoito
Salvação Através da
Renúncia
Arjuna disse: eu desejo conhecer a natureza da renúncia, e
do sacrifício, e a diferença entre os dois, Ó Senhor Krishna (18.01)
Definição de Renúncia e de Sacrifício
- O Senhor Krishna disse: os sábios definem a renúncia como abstenção de todo trabalho para proveito próprio. O sábio define o sacrifício como sendo livre do apego egoísta para os frutos de todo o trabalho (Veja, também, 5.01, 5.05, e 6.01) (18.02).
- Nós estamos usando a palavra "renunciação" para Samnyasa, e "sacrifício" para Tyaga, nesta tradução. Um renunciante (Samnyasi), não é proprietário de nada. Um verdadeiro renunciante trabalha para os outros e vive para - e não dos - outros.
- Samnyasa significa "completa renúncia" de "fazedor", "possuidor", e motivos pessoais egoístas por detrás de uma ação; enquanto que Tyaga significa renúncia do apego egoísta aos frutos de todo o trabalho, ou trabalho feito apenas para Deus.
- Uma pessoa que faz serviço sacrificial (Seva), para Deus, é chamada de Tyagi ou um karma Yogi. Assim, um Tyagi que pensa que ele ou ela é o fazedor de todos os trabalhos apenas para o prazer de Deus irá sempre lembrar-se d´Ele.
- Portanto, isto é mencionado no verso 12.12 que Tyaga é a melhor prática espiritual. A palavra "Samnyasa"e "Tyaga", são usadas de forma intercalada no Gita porque não há, propriamente, uma diferença real entre as duas (veja os versos 5.04, 5.050, 6.01, e 6.02).
- De acordo com o Gita, Samnyasa não significa viver na floresta ou em qualquer outro lugar recluso, fora da sociedade. Samnyasa é um estado da mente que é completamente desapegado da consciência de resultado dos frutos do trabalho.
- Todos desejam a paz da mente, mas ela só é possível para aquele que trabalha para Deus, sem ser apegado aos resultados das suas ações - e dedica os resultados de todo o seu trabalho para Deus. Não é necessário que, semelhante ao que alguns "gurus" têm propagado, que alguém ofereça toda a riqueza material, e suas posses, para alguma seita.
- Alguns filósofos dizem que todo o trabalho é cheio de falhas e devem ser abandonados, enquanto outros dizem que os atos do sacrifício, caridade, e austeridade não devem ser abandonados (18.03).
- Ó Arjuna, escute Minha conclusão sobre o sacrifício. O Sacrifício é dito que é de três tipos (18.04).
- Atos proveitosos, caridade, e austeridade não devem ser abandonados, mas devem ser realizados porque serviço, caridade e austeridade são os purificadores do sábio (18.05).
- Mesmo aqueles trabalhos obrigatórios devem ser realizados sem apego aos frutos dos resultados. Este é Meu conselho definitivo, Ó Arjuna (18.06).
Três Tipos de
Sacrifício
Abandone toda a obrigação que não é própria. O abandono do
trabalho obrigatório é devido à ilusão, e é declarado como estando no modo da
ignorância (18.07).
Aqueles que abandonam as obrigações, meramente porque é
difícil ou por causa do medo de uma aflição corpórea, não recebem os benefícios
dos sacrifícios, por realizarem sacrifícios semelhante ao modo da paixão
(18.08).
O trabalho obrigatório realizado como uma obrigação,
renunciando o apego egoísta pelos frutos, é considerado como um sacrifício no
modo da bondade (18.09).
A renúncia ao apego dos prazeres sexuais é um sacrifício
real (Tyaga). A perfeição do Tyaga vem somente após uma pessoa tornar-se livre
do domínio dos apegos e aversões (MB 12.162.17).
Não há melhor olho que o olho
do autoconhecimento, nem austeridade melhor do que a verdade, nem dor maior do
que o apego, e não há prazer maior igual ao Tyaga (MB 12.175.35).
- Uma pessoa não pode tornar-se feliz sem Tyaga;
- uma pessoa não pode tornar-se corajosa sem Tyaga;
- e uma pessoa não pode alcançar a Deus sem Tyaga (MB 12.176.22).
Mesmo a
felicidade do transe não poderá divertir mais do que o propósito do
divertimento.
O Gita recomenda a renuncia enquanto vivendo no mundo - não
renunciar ao mundo como comumente é mal interpretado.
Cristo disse: se você quer a perfeição, largue tudo o que
você tem, e então siga-Me (Mateus, 19.21). Ninguém pode servir a dois mestres.
Você não pode servir tanto a Deus como o dinheiro - os desejos materiais
(Mateus, 6.24). Cristo não excitou em sacrificar a da Sua própria vida por
nobres ensinamentos.
O Senhor Rama largou o Seu reino, e mesmo a Sua própria
esposa, para restabelecer a retidão (Dharma). "Abandone os apegos e
alcance a perfeição pela renúncia", e a mensagem dos Vedas e dos
Upanishads.
O serviço desapegado ou "Tyaga", é a essência do Gita,
como é dada neste último capítulo. Uma pessoa que é um Tyagi não pode cometer
pecados e está liberado do ciclo de transmigração. Pode-se cruzar o oceano da
transmigração e alcançar a praia da salvação mesmo nesta vida, como bote do
Tyaga.
Os nove tipos de renúncia conduzem à salvação, baseados nos
ensinamentos do Gita que são:
(1) renúncia das ações proibidas pelas escrituras
(16.23-24);
(2) renúncia da luxúria, ira, orgulho, medo, gosto e desgosto, e
inveja ou ciúme (3.34; 16.21);
(3) afastar-se do retardamento na busca da
verdade (12.09);
(4) abandonar o sentimento orgulhoso do conhecimento e poder
que se possua, com desapego, devoção e atos caridosos (15.05; 16.01-04);
(5)
rejeição de motivos egoístas e apego aos frutos de todos os trabalhos (2.51,
3.09, 4.20, 6.10);
(6) renúncia dos sentimentos de que "eu sou quem
faz", em todas as tarefas (12.13; 18.53);
(7) abandonar os pensamentos de
usar o Senhor para a realizações egoístas e desejos materiais (2.43,7.16);
(8)
afastar-se dos apegos dos objetos materiais como uma casa, riqueza, posição e
poder (12.19. 13.09); e (9) sacrificar a riqueza, o prestígios, e mesmo a vida
por uma nobre causa e proteção do reto agir (Dharma) (2.32, 4.28).
Aquele que nunca odeia um trabalho desagradável, não é
apegado ao trabalho agradável, é considerado um renunciante (Tyagi), estando
embebido com o modo da bondade, inteligência, e livre de todas as dúvidas sobre
o Ser Supremo (18.10).
Os seres humanos não podem se abster por completo do
trabalho. Então, aquele que renuncia completamente ao apego egoísta aos frutos
de todo o trabalho é considerado um renunciante (18.11).
Os três frutos do trabalho - o desejável, o indesejável, e o
misto - acumulam-se após a morte de quem não é um renunciante (Tyagi), mas
nunca para um Tyagi (18.12).
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