segunda-feira, 15 de abril de 2013

8º VERSO DOS 8 SLOKAS DE SRI CHAITANYA MAHAPRABHU



Verso 8 

aslisya va pada‐ratam pinastu mam
adarsanan marma hatam karotu va
yatha tatha va vidadhatu lampato
mat‐prana‐nathas tu sa eva naparah


Não conheço ninguém além de Krshna como meu Senhor, e Ele sempre o será, mesmo que me trate asperamente ao me abraçar ou se parta meu coração por não estar presente diante de mim. Ele é completamente livre para fazer qualquer coisa, pois sempre será o meu Senhor adorável, incondicionalmente.


 Que Ele triunfe fazendo o que quer que Lhe compraza; Ele, independente de tudo, é o amado Senhor de meu coração – nada senão o amado Senhor de meu coração – e não me há ninguém além dEle. Sri Krsna é a Pessoa Suprema, plenamente independente; e agir de acordo com os Seus desejos é a minha única religião. Eu não sou nem independente nem suficientemente caprichosa para me desviar dessa atitude de serviço ou para ir contra a Sua vontade”.

No estágio de perfeição, a alma espiritual é destituída tanto de designações materiais corpóreas como de designações mentais de mesma categoria e alcança então o reino transcendental de Vrndavana, o parque de diversões eterno do Senhor Krsna, onde todos os desejos dEle são atendidos. 

Então, a alma espiritual se torna uma assistente feminina de uma gopi e serve Krsna em sua identidade espiritual original (siddha‐deha) abençoada com sentidos supramundanos (aprakrta). Seu único objeto de meditação é a satisfação dos desejos de Krsna – esta é a verdadeira forma de prema‐bhakti, a devoção imaculada ou o amor a Deus.

A alma espiritual, agora livre de toda contaminação e existindo no mundo espiritual, jamais deve se considerar como a asraya‐vigraha, ou o eterno emblema sustentador do amor espiritual a Sri Krsna, senão que deve sempre se considerar subserviente à verdadeira asraya‐vigraha, Srimati Radharani, sempre considerando‐se Sua seguidora e uma aspirante à Sua misericórdia. Muito embora a alma espiritual seja querida ao Senhor Krsna; tanto por constituição como pelo desejo do Senhor, ela é da categoria de jiva‐tattva, parte e parcela distinta do Senhor.


Extraído do Livro 
Sri  Sri Siksastaka
‐ Sociedade Internacional para a Consciência de Krsna ‐
Composição
Sua Onipotência Sri Krsna Caitanya Mahaprabhu
Comentários
Sua Divina Graça Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura
Tradução
Bhagavan dasa (DvS)

7º VERSO DOS 8 SLOKAS DE SRI CHAITANYA MAHAPRABHU




Verso 7

yugayitam nimesena
caksusa pravrsayitam
sunyayitam jagat sarvam
govinda‐virahena me


"Ó Govinda, sentindo saudades de Ti, para mim parece que um instante dura como um grande milênio ou mais. De meus olhos fluem lágrimas como  se fossem torrentes de chuva, e sinto que o mundo está vazio com Tua ausência.”.

Este é um excelente exemplo de vipralambha‐rasa, ou humor de separação. Para os jata‐rati‐bhaktas, é absolutamente essencial que busquem pela experiência de vipralambha‐rasa e não se importem com sambhoga, ou encontro com o Senhor. Este sétimo sloka foi falado com o propósito de apresentar esse ponto.

O sentimento de separação que é experimentado nos relacionamentos materiais é simplesmente repleto de aflição; o sentimento de separação no plano transcendental (aprakrta vipralambha‐rasa), contudo, resulta em imenso êxtase (paramananda), muito embora externamente pareça tratar‐se de um sofrimento muito intenso e penoso. Em relação à separação experienciada pelo Vaisnava, diz‐se o seguinte [no Caitanya Bhagavata, Madhya 9.240]:

yata dekha vaisnavera vyavahara duhkha
niscaya janiha sei parananda sukha

“Conquanto os sentimentos de separação experienciados por um Vaisnava aparentemente se assemelhem ao sofrimento ordinário, deve‐se entender que, para o Vaisnava, tais sentimentos não são nada além de bem‐aventurança transcendental”.

Vipralambha sempre fomenta sambhoga. De fato, há sambhoga em prema‐vaicitra, a variedade amorosa dentro de vipralambha‐rasa, mas somente externamente, pois, embora a pessoa esteja diretamente na presença do Senhor (sambhoga), ela sente intensa separação (vipralambha) devido ao medo de se separar do Senhor. Vipralambha é marcada pela incessante e intensa lembrança do Senhor Krsna e de Seus passatempos, não havendo nenhuma possibilidade de esquecimento do Senhor nem mesmo por um ínfimo instante. Este é o estágio culminante de todo o bhajana.

A licenciosa exibição de sambhoga‐rasa feita pelo grupo conhecido como gaura‐nagari, o qual não se constitui de seguidores sinceros do Senhor Krsna, é produto de hipocrisia; tal exibição só faz criar obstáculos no caminho à devoção pura. Os sambhogavadis, aqueles que aspiram por sambhoga, não buscam nada senão o auto‐engrandecimento e a autogratificação, sendo, por conseguinte, destituídos de devoção pura a Krsna.

Se os gaura‐nagaris entendessem o significado do sloka citado a seguir, eles não se deixariam ser aferroados pelo desfrute de seus sentidos; no caso específicos deles, sob o falso pretexto de apresentarem o Senhor Caitanya como um buscador de prazer, ou nagari. O verso [do Caitanya‐Caritamrta, Adi‐lila 4.165] é o seguinte:

atmendriya‐priti‐vancha‐tare bali kama
krsnendriya‐priti‐iccha dhare prema nama

“O desejo de gratificar os próprios sentidos é kama (luxúria), mas o desejo de satisfazer os sentidos do Senhor Krsna é prema (amor)”.

Abandonando todas as concepções equivocadas, a pessoa deve realizar bhajana sob a orientação dos Vaisnavas.

O significado esotérico dos passatempos do Senhor Caitanya é que, embora o Senhor Krsna tenha aceitado os sentimentos de um devoto, Ele está sempre situado no humor de vipralambha. A jiva é um devoto; para ela desfrutar completamente de sambhoga‐rasa e dar completa expressão a tal, ela tem que se refugiar em vipralambha, o humor de amor em separação. A fim de propagar e demonstrar essa verdade, o Senhor Krsna manifestou Sua forma eterna como o Senhor Caitanya (Gaura‐svarupa), que é a personificação de vipralambha‐rasa. 

Os devotos devem, portanto, rejeitar qualquer idéia relativa a empenhos focados em sambhoga‐rasa, visto que semelhantes empenhos jamais poderão ser bem‐sucedidos.


Extraído do Livro 
Sri  Sri Siksastaka
‐ Sociedade Internacional para a Consciência de Krsna ‐
Composição
Sua Onipotência Sri Krsna Caitanya Mahaprabhu
Comentários
Sua Divina Graça Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura
Tradução
Bhagavan dasa (DvS)

6º VERSO DOS 8 SLOKAS DE SRI CHAITANYA MAHAPRABHU




Verso 6 

nayanam galad‐asru‐dharaya
vadanam gadgada‐ruddhaya gira
pulakair nicitam vapu kada
tava nama‐grahane bhavisyati


Ó meu Senhor, quando meus olhos se decorarão com lágrimas de amor, fluindo constantemente por eu cantar Teu santo nome? Quando minha voz se abafará, e quando os pelos de meu corpo se arrepiarão com a recitação do Teu nome?

“Ó Senhor Krsna, Ó desfrutador das gopis, quando os olhos desta gopi irão se decorar com um cascatear de lágrimas decorrente da recitação de Seu nome? Quando a minha voz se embargará, e quando o meu corpo irá estremecer e arrepiar‐se em êxtase?”.

Esta oração é um exemplo de lalasamayi vijnapti. A palavra vijnapti se refere a uma categoria de súplica ou oração submissa. Tais súplicas ou orações submissas são descritas como existentes em três categorias: samprarthanatmika, uma oração com completa submissão da mente, do corpo e de tudo ao Senhor, a qual visa o despertar de rati (ou bhava) na pessoa em quem este ainda não foi desperto; dainnyavodhika, a oração que visa o reconhecimento da própria insignificância e inutilidade; e, finalmente, lalasamayi, que se aplica unicamente à pessoa em quem rati já se despertou. Lalasa significa “anseio intenso”. Após a manifestação de rati no coração, manifesta‐se um intenso anseio por servir o Senhor de uma maneira em particular de acordo com a sthayi bhava pessoal. Lalasamayi, portanto, é uma oração com o intento de obter o serviço pelo qual a pessoa sempre anseia.

No Bhakti‐Rasamrta‐Sindhu (1.2.156), outro exemplo de lalasamayi vijnapti é apresentado:

kadaham yamuna‐tire namani tava kirtayan
udvaspah pundarikaksa racayisyami tandavam

[Narada Muni se dirige ao Senhor:] “Ó Krsna de olhos de lótus! Enquanto canto o Seu santo nome às margens do Yamuna, quando minha voz irá se embargar e gaguejarei em êxtase? Quando me absorverei em sentimentos espirituais e dançarei tal qual um louco que não se importa com os estranhos ao seu redor?”.

Quanto ao cantar dos nomes secundários de Krsna (gauna‐nama), não existe a possibilidade de serem cantados com expressões de prema. Com relação a isto, o Senhor Caitanya, citando Srila Vyasadeva, afirma [como registrado no Padyavali 39]:

srutamapyaupanisadam dure hari‐kathamrtat
yanna santi dravac‐citta‐kampasru‐pulakadayah

“O tema dos Upanisads é muito distante dos nectáreos tópicos referentes ao Senhor Hari e a Seus passatempos. Eles, portanto, não são capazes de derreter o coração do ouvinte/leitor e levá‐lo às lágrimas e aos arrepios de êxtase”.

Brahman, o tema dos Upanisads, é apenas remotamente conectado às doces narrações dos passatempos do Senhor Krsna. Histórias sobre Krsna sempre inundam o coração, o que conduz a tremores, choro, transformações corpóreas e assim por diante. Este verso não se refere àqueles que têm olhos naturalmente umedecidos ou que sofrem afetivamente de êxtases artificiais. 

Quando a alma se torna purificada e se atrai espontaneamente ao serviço amoroso a Krsna, seu corpo e sua mente se tornam servilmente obedientes aos eternos êxtases que ocupam o íntimo de seu coração. Desta forma, o derretimento do coração e outros sintomas de êxtase que comandam a mente e o corpo são manifestos unicamente nos devotos puros, os devotos absolutamente absolvidos de todos os anarthas. 

Neófitos que tentam reproduzir artificialmente as emoções e os sintomas extáticos do maha‐bhagavata simplesmente para enganarem as pessoas em geral estão, de fato, criando gigantescos obstáculos em seu caminho rumo ao serviço devocional puro.


Extraído do Livro 
Sri  Sri Siksastaka
‐ Sociedade Internacional para a Consciência de Krsna ‐
Composição
Sua Onipotência Sri Krsna Caitanya Mahaprabhu
Comentários
Sua Divina Graça Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura
Tradução
Bhagavan dasa (DvS)

5º VERSO DOS 8 SLOKAS DE SRI CHAITANYA MAHAPRABHU



 Verso 5 

ayi nanda‐tanuja kinkaram
patitam mam visame bhavambudhau
krpaya tava pada‐pankaja‐
sthita‐dhuli‐sadrsam vicintaya

Ó filho de Maharaja Nanda, Krsna, sou Teu servo eterno; porém de alguma forma caí no oceano de nascimentos e mortes. Resgata-me, por favor, deste terrível oceano de ignorância e situa‐me como um dos átomos a Teus pés de lótus.

O Senhor Krsna, o filho de Maharaja Nanda, é o objeto da devoção de todos. A postura de serviço eterno ao Senhor Krsna é um aspecto inerente à identidade espiritual pura (svarupa) de toda alma espiritual. A jiva, ou alma espiritual, tendo se tornado indiferente ao serviço ao Senhor Krsna, afoga‐se repetidamente no intransponível e medonho oceano da existência material, onde é atormentada pelas três classes de misérias. 

Em tal situação, sua única chance de sobrevivência é o recebimento da misericórdia do Senhor Supremo. Se o Senhor Sri Krsna, em virtude de Sua misericórdia sem causa, aceita a jiva como uma partícula de poeira a Seus pés de lótus, então a identidade encoberta da alma espiritual, bem como sua propensão eterna a servir o Senhor Krsna, tornam‐se novamente manifestas.

A tentativa de obter os pés de lótus de Sri Krsna através do próprio empenho é chamada “arohapantha”. Krsna não pode ser obtido por esse método, senão que, somente por meio da rendição ao desejo e à misericórdia do Senhor Krsna, pode a jiva obter o serviço a Ele. O termo pada‐dhuli (uma partícula de poeira a Seus pés de lótus) aqui utilizado evidencia o conceito da identidade original da jiva como parte e parcela infinitesimal de Krsna.

Até o momento em que a jiva se situe completamente em sua svarupa, ou identidade espiritual original, a presença de anarthas, ou desejos inconvenientes, é inevitável. Nesse estado, a definição da meta última permanece indeterminada, obscurecida por impurezas. O cantar puro do santo nome começa após o despertar de sambandha‐jnana, e somente através de tal cantar puro é possível a obtenção de prema. 

Quando, por meio do contínuo cantar do suddha‐nama, rati aos pés de lótus do Senhor desperta no coração da jiva, ela é então conhecida como jata‐rati‐bhakta, um devoto em cujo coração rati se manifestou. A diferença entre um ajata‐rati‐sadhaka e um jata‐rati‐bhakta é a qualidade do cantar de cada um. Mentirosamente apresentar‐se como um jata‐rati‐bhakta – ou seja, apresentar‐se assim antes de ter atingido tal estágio – é completamente inapropriado.

Após anartha‐nivrtti, a pessoa se situa em “naivantarya”, estado este caracterizado por ininterrupta estabilidade na prática do sadhana (sravana, kirtana e assim por diante). Em seguida, obtém‐se “sveccha‐purvika”, ou invocação voluntária dos passatempos de Krsna em meditação, um estágio avançado de lembrança do Senhor, o qual se manifesta no estágio de asakti. Este é seguido pela condição conhecida como “svarasiki”, desperta no estágio de bhava, na qual os passatempos imanifestos do Senhor manifestam‐se automaticamente no coração em um fluir ininterrupto. Por fim, após estes três estágios, aufere‐se a perfeição final de krsna‐prema.


Extraído do Livro 
Sri  Sri Siksastaka
‐ Sociedade Internacional para a Consciência de Krsna ‐
Composição
Sua Onipotência Sri Krsna Caitanya Mahaprabhu
Comentários
Sua Divina Graça Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura
Tradução
Bhagavan dasa (DvS)

4º VERSO DOS 8 SLOKAS DE SRI CHAITANYA MAHAPRABHU




Verso 4 

na dhanam na janam na sundarim
kavitam va jagad‐isa kamaye
mama janmani janmanisvare
bhavatad bhaktir ahaituki tvayi

Ó Senhor todo‐poderoso, não tenho desejo de acumular riquezas, nem desejo belas mulheres ou o envolvimento com as atividades fruitivas descritas em linguagem florida, nem quero ter seguidores. Só quero prestar-te serviço devocional desinteressado, nascimento após nascimento.

“Ó Jagadisa, Senhor do universo! Não tenho interesse por riquezas, seguidores ou belas poesias materiais (sundari kavita) embelezadas com adornos literários. Você é o meu objeto de adoração e de amor devocional nascimento após nascimento. Meu único desejo é que eu permaneça ocupado no serviço devocional imotivado a Seus pés de lótus (ahaituki bhakti)”.

Sundari kavita se refere à religiosidade material (dharma) descrita nos Vedas; dhanam se refere a riquezas (artha); e janam, a esposa, filhos, parentes e assim por diante.

“Eu não apenas abomino o desfrute material na forma de dharma, artha e kama ‐ respectivamente, religiosidade, desenvolvimento econômico e gratificação sensorial ‐, mas me aterroriza até mesmo a idéia do desejo por moksa, a liberação do ciclo de nascimentos e mortes. Eu me recuso a ser seduzido por estas quatro metas védicas ou a adorá‐lO em troca da obtenção delas, senão que o meu único desejo é poder servi‐lO e assim Lhe dar prazer”.

A oração do rei‐devoto Kulasekhara expressa essa disposição:

yad yad bhavyam bhavatu bhagavan purva‐karmanurupam
etad‐prarthyam mama bahumatam janma‐janmantare ʹpi
tvat‐padambhor‐uhayugagata niscala bhaktir‐astu
naham vande padakamalayor‐dvandvam‐advandva‐heto
kumbhipakam gurum‐api hare narakam napanetum
ramyaramamrdutanulatanandane nabhirantum
bhave bhave hrdaya‐bhavane bhavayeyam bhavantam

“Ó Senhor Supremo, meu Senhor. Não desejo acumular imensas quantidades de atividades piedosas através da realização de sacrifícios e da execução de deveres como recomendam as escrituras, tampouco desejo grandes opulências ou gratificação sensorial. Mesmo que eu acaso estivesse para obter soberania sobre este planeta Terra, não tenho nenhuma fé de que algum benefício verdadeiro nasceria disso. 

Qualquer que seja o objeto de gratificação sensorial que possa existir nos planetas intermediários ou celestiais, eu não o desejo. As reações que o meu destino me obrigará a sofrer ou desfrutar, que venham – eu não oro que me libere do mais temível e horrendo inferno, o inferno Kumbhipaka, tampouco oro que me permita desfrutar da companhia das belíssimas donzelas celestiais nos aprazíveis jardins Nandana‐kanana. Pelo que oro, Ó meu Senhor, é que a disposição devocional de meu coração permaneça indesviável e fixa a Seus pés de lótus nascimento após nascimento”.

Aqueles que possuem fé nos Vedas e que anseiam por religiosidade ordinária adoram o deus do sol; aqueles que anseiam por riquezas adoram Ganesa; aqueles que anseiam por variedade de desfrute sensual adoram Durga ou Kali; aqueles que anseiam pela liberação adoram Siva; e aqueles cuja devoção é misturada com o desejo de desfrutar dos resultados de suas atividades adoram o Senhor Visnu. 

Este tipo de adoração védica é conhecido como pancopasana. Pancopasana é sakama‐upasana, adoração com desejos materiais. Quando tais pretensos seguidores dos Vedas adoram sem desejos materiais (niskama) essas cinco personalidades; porque tratam o Senhor Visnu como no mesmo nível que os semideuses ‐ e não como a Suprema Personalidade de Deus ‐ eles estão adorando, de fato, o brahman impessoal (nirguna‐brahman), a única existência que aceitam como o supremo. Para se adorar o Senhor Visnu correta e puramente, o adorador deve prestar a Ele serviço devocional imotivado (ahaituki bhakti).



Extraído do Livro 
Sri  Sri Siksastaka
‐ Sociedade Internacional para a Consciência de Krsna ‐
Composição
Sua Onipotência Sri Krsna Caitanya Mahaprabhu
Comentários
Sua Divina Graça Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura
Tradução
Bhagavan dasa (DvS)

3º VERSO DOS 8 SLOKAS DE SRI CHAITANYA MAHAPRABHU



Verso 3 

trnad api sunicena
taror api sahisnuna
amanina manadena
kirtaniyah sada hari

Deve se cantar o santo nome do Senhor em um estado de espírito humilde, julgando‐se inferior à palha na rua; deve‐se ser mais tolerante do que uma árvore, desprovido de todo sentido de falso prestígio, e deve‐se estar pronto para oferecer todo respeito aos outros. Em tal estado de espírito, pode-se cantar o santo nome do Senhor constantemente.

A entidade viva é, por constituição, serva eterna do Senhor Krsna. Seu dharma eterno, portanto, é cantar os santos nomes do Senhor Supremo, quer enquanto em trânsito pelo mundo material quer residindo no mundo espiritual. O cantar do santo nome é tanto o meio para a obtenção (upaya) como o objeto a ser obtido (upeya). Não há nada melhor para o benefício e sucesso da humanidade além do cantar do santo nome, o qual invoca toda sorte de auspiciosidade tanto para quem o canta quanto para os demais. Sri Caitanya Mahaprabhu, em virtude de Sua compaixão para com as entidades vivas, compôs este verso a fim de descrever às jivas como elas podem cantar o santo nome evitando as plataformas de nama‐aparadha e namabhasa.

Aquele cujo coração não é inclinado ao serviço a Krsna, mas antes ao intoxicante desfrute material, é completamente incapaz de perceber seu verdadeiro tamanho infinitesimal. Por natureza, alguém que se empenha em ser o desfrutador não pode compreender verdadeiramente a realidade de sua insignificância; e tampouco pode ser tolerante. 

O desfrutador dos sentidos materiais é completamente incapaz de renunciar seu falso ego e seu falso prestígio, e não possui qualquer inclinação a demonstrar respeito por outros materialistas similares, senão que eles sempre se invejam mutuamente. Por outro lado, o Vaisnava que se extasia com o nome do Senhor é mais humilde até mesmo do que uma folha de grama, e mais tolerante do que uma árvore; enquanto mantém uma postura indiferente – ou até mesmo avessa – ao prestígio voltado a ele, está sempre ansioso por mostrar respeito a outros. 

Neste mundo material, ninguém além de tal alma elevada é digno e capaz de cantar o santo nome constantemente.

Quando essas almas imaculadas glorificam e adoram o guru e outros Vaisnavas, elas o fazem inspiradas por sua propensão inata de exaltar outros (manada). E quando afetuosamente aconselham discípulos e sadhakas a cantarem, elas o fazem os encorajando com palavras de apreciação, o que expressa sua inata qualidade de amanina – ausência de desejo por respeito ou louvor em troca.

O devoto puro compreende que essas palavras glorificativas e apreciadoras não se tratam de alguma espécie de bajulação barata, senão que reconhece suas qualidades espirituais; quando algum tolo, entretanto, equivocadamente as considera como mundanas, o devoto tolera seus comentários insultuosos e assim transparece sua qualidade da clemência. Essa é a sua natureza. 

O Vaisnava perfeito, aquele que canta sem ofensas, considera a si mesmo inferior à palha na rua, a qual é por todos pisoteada. Um verdadeiro santo jamais se considera um Vaisnava ou clama ser guru. Ele se considera discípulo do mundo inteiro, bem como a alma mais caída e insignificante de todas. Reconhecendo todo átomo e entidade viva infinitesimal como residência do Senhor Krsna, ele jamais considera algo ou alguém como inferior a ele. 

O devoto absorto no cantar do santo nome jamais deseja algo deste mundo, tampouco requer algo a alguém. E se alguém demonstra malícia contra ele ou o violenta, tal devoto nem retalha nem adota uma postura vingativa; ao contrário, ele ora pelo bem‐estar de seu atormentador.

O Devoto Puro é Fiel ao Seu Guru
O devoto que canta o santo nome adornado com as qualidades acima mencionadas jamais rejeita o processo devocional recebido de seu guru com o intento de adotar métodos novos e divergentes. Ele jamais inventa versos para cantar no lugar do maha‐mantra, senão que permanece sempre sob a guia do guru, prega as glórias do santo nome, escreve livros baseados no serviço devocional e se ocupa em bhajana e kirtana do nome de Hari – tudo em rigorosa adesão às instruções do guru. 

Ocupando‐se nestas atividades, não há transgressão da humildade Vaisnava, pois o devoto sempre se considera baixo e caído. Ele jamais tenta enganar outros por meio de uma falsa exibição de humildade visando obter riquezas ou adoração barata – tal categoria de humildade não é de valia alguma. 

O maha‐bhagavata, em companhia do constante cantar, não vê este mundo material como algo a ser explorado para o seu ganho pessoal, mas o vê como uma parafernália multiforme propícia para o serviço a Krsna e a Seus devotos. Em outras palavras, ele vê tudo neste mundo como relacionado a Krsna. Muito embora se torne perito no cantar do maha‐mantra, ele nunca cogita abandonar tal prática obtida de seu guru, tampouco tem ele interesse em propagar novas teorias e opiniões.

O maha‐bhagavata entende que se considerar o guru de um Vaisnava é contrário ao princípio da humildade. A grande verdade é que aqueles que não atentam seriamente às instruções do Senhor Caitanya neste Siksastaka, esquecidos de sua identidade espiritual, estão buscando avidamente por prestígio e ganho material a fim de satisfazerem seus sentidos. 

Aquele que está ávido pela obtenção do prestígio da posição social de Vaisnava ou guru jamais pode cantar o santo nome, pois se trata de um ofensor. E mesmo se um discípulo sincero e fiel ouve o santo nome de tal ofensor – apesar de sua sinceridade e fidelidade – ele não é digno do ouvir e cantar do santo nome puro.



Extraído do Livro 
Sri  Sri Siksastaka
‐ Sociedade Internacional para a Consciência de Krsna ‐
Composição
Sua Onipotência Sri Krsna Caitanya Mahaprabhu
Comentários
Sua Divina Graça Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura
Tradução
Bhagavan dasa (DvS)

2º VERSO DOS 8 SLOKAS DE SRI CHAITANYA MAHAPRABHU



Verso 2 

namnam akari bahudha nija‐sarva‐saktis
tatrarpita niyamitah smarane na kalah
etadrsi tava krpa bhagavan mamapi
durdaivam idrsam ihajani nanuragah

"Ó meu Senhor, somente Teu santo nome pode conceder todas as bênçãos aos seres vivos, e por isso possuis centenas e milhões de nomes, como Krsna e Govinda. Nestes nomes transcendentais, aplicaste todas as Tuas potências transcendentais. Nem sequer há regras rígidas para se cantar estes nomes. Ó meu Senhor, por Tua bondade, facilmente nos possibilitas aproximarmo‐nos de Ti, cantando Teus santos nomes, mas, desventurado como sou, não sinto atração por eles."

“Ó Senhor, motivado por Sua misericórdia sem‐causa, Você manifestou Seus inumeráveis nomes e os investiu com o poder de Suas potências transcendentais. Quanto ao cantar e ao lembrar desses nomes, Você não impôs nenhuma restrição. Mesmo enquanto comendo, sentado reclinado ou dormindo, a pessoa pode cantar os Seus nomes. Eu, contudo, sou tão deplorável que não sinto atração pelo cantar de tais nomes tão liberais e magnânimos”.

Nomes Primários e Secundários
A palavra bahu, ou muitos, indica dois tipos de santos nomes do Senhor: os primários (mukhya‐nama) e os secundários (gauna‐nama). Os nomes primários incluem Krsna, Radha‐ramana e Gopijana‐vallabha, que representam a disposição do Senhor em amor íntimo e doce (madhurya); e os nomes Rama, Vasudeva, Narasimha e semelhantes, que O abordam em Sua disposição de opulência e respeito (aisvarya). Brahma, Paramatma e similares são Seus nomes secundários; eles são incompletos, separados e parciais. Os nomes primários do Senhor são não‐diferentes dEle, e possuem todas as Suas potências; enquanto que os nomes secundários representam Suas potências apenas parcialmente.

O Significado de Durdaiva
A alma espiritual é consciente (cetana). O principal significado da palavra cetana é que a alma espiritual possui independência. Entretanto, pelo mau uso de sua independência, ela se torna contrária ao serviço amoroso ao Senhor e é aprisionada no reino ilusório e efêmero de maya. Desta forma se estabelece seu infortúnio (durdaiva). Quando a jiva aceita o caminho tríplice de anyabhilasita, ou desejos materiais, karma e jnana, ela se esquece de sua verdadeira identidade espiritual, ou svarupa, e assim causa grande infortúnio a si mesma. Sob o encanto dos desejos materiais, ela abandona o serviço a Krsna e se intoxica com o desejo de satisfazer sua mente e seu corpo pessoais. Assim, ela se torna atraída pela felicidade deste mundo material inerte e se ocupa em atividades piedosas a fim de obter os fugazes prazeres celestiais. Quando, no meio de tal desfrute, ela é forçada a experimentar aflição, ela renuncia sua inclinação ao desfrute material e busca se liberar por meio da imersão no aspecto impessoal do Supremo.

Nama‐aparadha, Namabhasa e Suddha‐nama
Muito afortunada, a alma espiritual obtém a associação dos devotos do Senhor. Em virtude da associação de tais devotos e devido às instruções recebidas do mestre espiritual e também à misericórdia do Senhor, ela se torna favorável ao serviço amoroso ao Senhor. Esta é a ocupação natural e eterna da jiva.
No momento atual, a boa fortuna das entidades vivas encontra‐se seriamente comprometida em razão de estar encoberta pelo seu envolvimento com os anteriormente mencionados anyabhilasita, karma e jnana. Elas seguem ocupadas em diversas buscas, como a busca por religiosidade (dharma), por desenvolvimento econômico (artha) e por gratificação sensorial (kama). Algumas vezes, enojada de seu envolvimento em abomináveis atividades pecaminosas, a jiva aceita o cantar do santo nome, mas, com as dez ofensas, ela ofende ainda mais o nome. Neste estágio, o seu cantar do nome não é o cantar puro (suddha‐nama), mas o cantar ofensivo (nama‐aparadha). 

Algumas vezes, atormentada por seu estado caótico, onde a paz encontra‐se muito longe de seu alcance, a alma espiritual tenta evitar a gratificação dos sentidos materiais. Ela aceita o cantar, mas é ignorante e desinteressada do cultivo de sambandha‐jnana, o conhecimento referente à sua eterna relação com o Senhor Supremo e a Suas potências multifárias. O cantar neste estágio não é puro, mas o praticante já deu início ao processo, e está cantando a “sombra do nome”, ou namabhasa. Seu cantar é apenas semelhante ao nome puro. Cantando em namabhasa, a pessoa se libera do conceito materialista de vida e se torna elegível para a prestação do serviço devocional ao Senhor Supremo. As almas elevadas, tendo livrado a si mesmas do infortúnio da existência material e da liberação impessoal, cantam o santo nome do Senhor puramente e, assim, obtêm amor puro por Krsna.

O Processo para a Liberação de Nama‐aparadha
Vendo o miserável destino das almas condicionadas, Sri Caitanya Mahaprabhu adveio e trouxe conSigo o processo transcendental do cantar dos santos nomes do Senhor. Instruindo as almas condicionadas acerca deste cantar, Ele notou o lamentável desinteresse delas. No entanto, apesar dessa condição calamitosa, a misericórdia do Senhor está sempre presente e a postos.

Há um método para se livrar das ferrenhas garras do cantar ofensivo. Considerando as ofensas tão perigosas como raios, a pessoa deve identificá‐las e deliberadamente evitá‐las enquanto canta continuamente o santo nome. Este cantar, de nome namabhasa, eleva o praticante à plataforma de mukti, ou liberação, livrando‐o do apego e da dependência da gratificação dos sentidos materiais. A partir de então, ele obtém a qualificação para cantar o santo nome com toda a pureza.

A obtenção de todas estas oportunidades providenciadas pelo Senhor Supremo indica o ilimitado e perene fluir de Sua compaixão. O simples cantar dos nomes primários de Deus evoca o único e verdadeiro benefício para toda a humanidade.

Niyamitah smarane na kalah
No que concerne à satisfação dos desejos oriundos da insignificante gratificação dos sentidos materiais, há rígidas considerações quanto a tempo, lugar, pessoa, qualificação, etc. O Senhor, no entanto, devido à Sua misericórdia para com as jivas, não estabeleceu nada parecido em relação ao cantar dos santos nomes; em outras palavras, pode‐se cantar o santo nome do Senhor em qualquer momento ou condição.

No Caitanya‐Bhagavata [Madhya 28.28], encontramos a seguinte declaração de Sri Caitanya Mahaprabhu:

ki sayane, ki bhojane, kiva jagarane
ahirnasa cinta krsna, balaha vadane

“Sempre se lembrem de cantar o santo nome – quer dormindo, comendo ou caminhando”.

Em Madhya 23.78, também encontramos:

sarvaksana balaithe vidhi nahi ara

“Não há regras rígidas e severas para cantar, portanto cantem sempre”.

Essa mesma instrução é repetida no Caitanya‐Caritamrta [Antya 20.18]:

khaite suite yatha tatha laya
kala, desa niyama nahi, sarva sidhi haya

“Independente de tempo ou lugar, alguém que canta o santo nome, mesmo enquanto come ou dorme, obtém toda a perfeição”.



Extraído do Livro 
Sri  Sri Siksastaka
‐ Sociedade Internacional para a Consciência de Krsna ‐
Composição
Sua Onipotência Sri Krsna Caitanya Mahaprabhu
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Sua Divina Graça Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura
Tradução
Bhagavan dasa (DvS)

1ºVERSO DOS 8 SLOKAS DE SRI CHAITANYA MAHAPRABHU



 Verso 1 

ceto‐darpana‐marjanam bhava‐maha‐davagni‐nirvapanam
sreyah‐kairava‐candrika‐vitaranam vidya‐vadhu‐jivanam
anandambudhi‐vardhanam prati‐padam purnamrtasvadanam
sarvatma‐snapanam param vijayate sri‐krsna‐sankirtanam

Glórias ao Sri‐krsna‐sankirtana, que limpa do coração toda a poeira acumulada durante anos e extingue o fogo da vida condicional, de repetidos nascimentos e mortes. Este movimento  sankirtana é a bênção principal para toda a humanidade  porque espalha os raios da lua da bênção. É a vida de todo o conhecimento transcendental. Ele aumenta o oceano de bem-aventurança transcendental, banha o eu de todos, e nos capacita a saborear completamente o néctar pelo qual sempre ansiamos.

Há inúmeras maneiras para se executar serviço devocional, o Srimad‐Bhagavatam e o Hari‐bhakti‐vilasa descrevem vários deles. De maneira geral, sessenta e quatro ramos do serviço devocional são considerados as principais disciplinas ou processos da bhakti‐yoga. Eles são todos agrupados sob as categorias de vaidhi‐bhakti (serviço devocional de acordo com as regras e regulações) e raganuga‐bhakti (serviço devocional espontâneo). No Srimad‐Bhagavatam, Prahlada Maharaja glorifica especialmente o serviço devocional puro e espontâneo. Como dito pelo Senhor Gaurasundara: “O canto congregacional do santo nome do Senhor é a forma mais perfeita de serviço devocional”.

Aqueles que são instruídos na ciência transcendental da Verdade Absoluta definiram a substância não‐dual suprema, conhecida no estágio preliminar por meio de jnana, como brahman. Compreendido mais profundamente em seu aspecto eterno, ela é definida como paramatma, ou a Superalma. Na completa e plena manifestação de todas as suas potências e de sua natureza transcendental de conhecimento pleno, eternidade e bem‐aventurança, a Suprema Verdade Absoluta é conhecida como bhagavan. Bhagavan, ou a Suprema Personalidade de Deus, é chamado Vasudeva quando manifesta Sua opulência suprema, e Krsna quando encobre Sua opulência com Seu humor de amor conjugal. O Senhor Narayana reciproca Seus devotos principalmente em duas doçuras, ou rasas, enquanto que o Senhor Krsna é o objeto adorável de todas as cinco rasas. O Senhor Balarama, a expansão vaibhava prakasa do Senhor Krsna manifesta em relação a Suas excelências, é o Senhor Supremo de Vaikunthaloka, residindo permanentemente ali em Suas eternas expansões de catur‐vyuha.

O cantar apropriado em japa é possível unicamente na mente. Assim irá o praticante do cantar obter a perfeição desejada. O canto audível com movimentos labiais é kirtana; este é mais efetivo do que o cantar em japa, e traz para o praticante o maior benefício. Sankirtana significa “kirtana completo”, pois não é necessário executar nenhuma outra atividade devocional se a pessoa realiza sankirtana. Kirtana parcial ou imperfeito do santo nome do Senhor Krsna não é o mesmo que sankirtana. O cantar imperfeito do nome de Krsna é incapaz de causar a grandessíssima e perfeita mudança espiritual das entidades vivas. Ao contrário, tal cantar imperfeito irá fazer com que elas duvidem da potência do kirtana. Desta forma, que o cantar completo e perfeito do santo nome de Krsna, ou nama‐sankirtana, seja vitorioso.

O conhecimento de um indivíduo acerca de tópicos mundanos é fragmentado. No mundo espiritual, contudo, o Senhor Krsna é o tópico último, e, sendo transcendental, esse plano permanece eternamente intocado pela natureza material. Através da discussão sobre tópicos transcendentais, ou Sri Krsna, obtêm‐se perfeições supramundanas. Sete dessas perfeições, especialmente relacionadas ao cantar do santo nome do Senhor Krsna, são mencionadas neste sloka.

(1) ceto‐darpana‐marjanam (remove do coração toda a poeira acumulada)

O cantar do nome do Senhor Krsna limpa o espelho do poluído coração da alma condicionada, que está completamente coberto por três contaminações, a saber, (1) desejos separados do interesse do Senhor, (2) desfrute de frutos de atividades mundanas, e (3) renúncia não observada com o intuito de aprazer ao Senhor. O processo mais efetivo para a limpeza do coração da jiva de todas essas impurezas é o cantar do nome do Senhor Krsna. Tais contaminações desleais cobrem o espelho da consciência e fazem com que a jiva rejeite sua natureza verdadeira. Somente o nome de Krsna é suficiente para livrar a consciência de todas essas aberrações. Assim, cantando constantemente, refugiando‐se completamente no santo nome, a jiva gradualmente começa a ver sua forma espiritual refletida no espelho do coração e entende: “Eu sou serva do Senhor Krsna”.

(2) bhava‐maha‐davagni‐nirvapanam (extingue o fogo da vida condicionada)

Esta existência material apenas parece ser doce e prazerosa, mas, na realidade, é como um incêndio no íntimo da floresta, o qual, algumas vezes, pode reduzir toda a floresta a cinzas. Não‐devotos, aqueles destituídos de fé no Senhor Krsna, têm que tolerar constantemente a escaldante dor deste incêndio da existência material. Por outro lado, quando o nome do Senhor Krsna é perfeitamente cantando, os devotos são protegidos dessas abrasantes chamas, muito embora talvez estejam no meio da floresta do mundo material.
(3) sreya‐kairava‐candrika‐vitaranam (espalha os raios da lua da bênção)
Cantar o santo nome do Senhor Krsna com todo o coração é a bondade e a munificência mais elevadas. Sreyah significa “bênção”, kairava significa “lírios brancos”, e candrika são os raios da lua. Assim como, por meio dos mitigantes raios da lua, a beleza do lírio branco se destaca na noite, o cantar do nome de Krsna traz o melhor no homem e ilumina o escuro universo com o derramar de sua bênção divina. A sociedade humana não se beneficia nem com desejos materiais de gozo dos sentidos nem com conhecimento especulativo nem com atividades fruitivas, senão que é o cantar do nome de Krsna que abençoa a todos com a maior das prosperidades.

(4) vidya‐vadhu‐jivam (a vida de todo o conhecimento transcendental)

O Mundaka Upanisad menciona dois tipos de conhecimento: material e transcendental. O cantar do santo nome do Senhor Krsna é indiretamente o manancial do conhecimento material, mas é primariamente a vida e alma do conhecimento transcendental, ou supramundano. O cantar induz a jiva a quebrar os grilhões do falso‐ego e do falso‐prestígio – produtos do conhecimento material – e a conduz à compreensão de sua relação eterna com o Supremo Senhor Sri Krsna, o filho do rei de Vraja. O intento último de todo conhecimento transcendental é, portanto, o cantar do santo nome de Krsna.

(5) anandambudhi‐vardhanam (aumenta o oceano de êxtase transcendental)

O cantar do santo nome expande o ilimitado oceano de bem‐aventurança transcendental e permite que a pessoa desfrute plenamente do mais doce néctar a todo instante. A palavra “oceano” não pode ser aplicada a um pequeno reservatório d’água, daí ser apropriada a comparação da ilimitada bem‐aventurança oriunda do cantar do santo nome a um oceano.

(6) prati‐padam purnamrtasvadanam (nos capacita a saborear o néctar pelo qual sempre ansiamos)

Estas experiências transcendentais, uma vez que são eternas e intocadas por qualquer sorte de imperfeição, não carecem nem de plenitude nem de constância.

(7) sarvatma‐snapanam (banha completamente o corpo, a mente e a alma)

Mesmo os objetos e a natureza espirituais tornam‐se mais tenros em contato com o cantar do santo nome de Krsna. No reino mundano, o corpo e a mente, e, acima deles, a alma, não só se tornam purificados pelo nome de Krsna, mas, gradual e inevitavelmente, tornam‐se tenros como ele.
As contaminações sutis e grosseiras concomitantes da concepção material de vida quase devoraram a alma espiritual, mas essas doenças materiais podem ser imediatamente extirpadas pelo cantar do santo nome. Quando livre de suas designações materiais, a entidade viva volta sua atenção para Sri Krsna e se ocupa no serviço devocional sob a fresca e confortante sombra de Seus pés de lótus.
Srila Jiva Gosvami escreve em seu Bhakti‐sandarbha [273], e no Krama‐sandarbha:

ata eva yadyapyanya bhaktih kalau kartavya tada kirtanakhya‐bhakti‐samyogenaiva

Isto quer dizer que, embora seja necessária em Kali‐yuga a observância dos outros oito ramos do serviço devocional – a saber, sravana, smaranam, pada‐sevanam, arcanam, vandanam, dasyam, sakhyam e atma nivedanam – eles têm de ser realizados juntamente com o cantar (kirtanam).




Extraído do Livro 
Sri  Sri Siksastaka
‐ Sociedade Internacional para a Consciência de Krsna ‐
Composição
Sua Onipotência Sri Krsna Caitanya Mahaprabhu
Comentários
Sua Divina Graça Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura
Tradução
Bhagavan dasa (DvS)

domingo, 14 de abril de 2013

OS 8 VERSOS DE SRI KRSNA CAITANYA MAHAPRABHU



SRI KRSNA CHAITANYA MAHAPRABHU




Sri CHaitanya Mahaprabhu apareceu no ano de 1486 em Navadvipa, Bengala, como filho de Jagannatha Misra e Srimati Sacidevi. Dos astrólogos, recebeu o nome de Visvambhara, o mantenedor do universo, e foi apelidado de Nimai em razão de ter nascido sob uma árvore de nim. Foi predito que Ele possuiria qualidades extraordinárias e que liberaria as pessoas do mundo material.

Quando criança, o único modo encontrado por Seus pais para que parasse de chorar era cantando os santos nomes. Assim, desde o começo, Ele induziu as pessoas a cantarem os santos nomes de Deus.

Sri Caitanya estudou as escrituras sob a orientação de um guru e logo Se tornou perito em sânscrito e lógica. Quando ainda um garotinho, adquiriu formidável reputação como vedantista e especialista em lógica, chegando a derrotar Kesava Kasmir, um brahmana temido por todos como digvijayi, o inconquistável.

Após a morte de Seu pai, Sri Caitanya foi para Gaya, onde recebeu iniciação espiritual de Isvara Puri. A partir de então, absorveu‐Se completamente no serviço devocional; dançando e cantando constantemente os nomes do Senhor Krsna em intenso êxtase amoroso. Uma vez de volta a Navadvipa, passou a cantar os nomes do Senhor com Seus seguidores, estabelecendo dessa forma o movimento de sankirtana.

O movimento de sankirtana então começou a crescer pela região. Não fazendo distinção entre casta ou credo, ricos ou pobres; Caitanya Mahaprabhu distribuiu o cantar dos santos nomes do Senhor, o processo através do qual todos podem obter amor puro por Deus.

Aos 24 anos de idade, recebeu sannyasa de Kesava Bharati e o nome Krsna Caitanya. Passou quatro anos viajando pelo sul da Índia, Vrndavana e Varanasi, estabelecendo‐Se, por fim, em Jagannatha Puri, onde Se absorveu na devoção extática a Krsna no humor devocional de Srimati Radharani.
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Caitanya Mahaprabhu muito enfatizou que todos podem se tornar devotos. Ele costumava glorificar Haridasa Thakura, nascido em família de muçulmanos, que cantava diariamente 300.000 vezes o nome do Senhor. Ele provou que qualquer entidade vida, seja ela um brahmana erudito, um sudra caído, um criminoso ou mesmo um animal, pode se elevar espiritualmente por meio do cantar ou do ouvir dos nomes do Senhor. Desta forma, Ele expôs que o amor a Deus é uma qualidade intrínseca à alma espiritual e que pode ser facilmente desperto de seu estado dormente por meio do processo do cantar.

Os seguidores imediatos de Caitanya Mahaprabhu, principalmente os seis Gosvamis, escreveram muitos livros com base nas instruções pessoalmente dadas por Caitanya Mahaprabhu; tais livros demonstram objetivamente que prema‐bhakti, o serviço devocional puro a Krsna, é a meta última dos Vedas. Krsnadasa Kaviraja Gosvami e Vrndavana Dasa Thakura escreveram as biografias autorizadas de Sri Krsna Caitanya de nome Sri Caitanya‐caritamrta e Sri Caitanya Bhagavata.

Conquanto tenha inspirado Seus seguidores a escreverem prolificamente, Caitanya Mahaprabhu deixou a essência de Seus ensinamentos em apenas oito versos chamados Siksastaka. Cada um destes versos é uma pérola de sabedoria espiritual, os quais, se compreendidos apropriadamente sob a orientação de um instrutor qualificado, podem rapidamente elevar o estudante do plano mundano do materialismo para a plataforma mais elevada de devoção. 

Além destes oito versos, Caitanya Mahaprabhu viveu uma vida exemplar para ser a vida modelo de todas as pessoas de Kali‐yuga que desejam sinceramente voltar ao lar, voltar ao Supremo.

Caitanya Mahaprabhu é reconhecido como o próprio Senhor Krsna, a Suprema Personalidade de Deus. Ele apareceu no humor de Sua maior devota, Srimati Radharani, tanto para nos ensinar o amor a Deus quanto para pessoalmente provar o que sentem os Seus devotos quando eles O servem e adoram.
Caitanya Mahaprabhu desapareceu deste mundo no ano de 1534, tendo nele permanecido por 48 anos.

O Senhor Caitanya Mahaprabhu instruiu Seus discípulos a escrevem livros sobre a ciência de Krsna, uma tarefa que Seus seguidores continuam a realizar até os dias atuais. As elaborações e exposições sobre a filosofia ensinada pelo Senhor Caitanya são, de fato, as mais volumosas, exatas e consistentes – isto devido ao sistema de sucessão discipular. 

Embora fosse amplamente conhecido como um erudito em Sua juventude, o Senhor Caitanya nos deixou apenas oito versos, chamados Siksastaka. Estes oitos versos revelam de forma concisa e clara os ensinamentos de Sri Caitanya Mahaprabhu, cuja essência é o cantar do santo nome.


O primeiro verso estabelece sraddha, fé no santo nome, enumerando suas sete qualidades transcendentais.


O segundo verso descreve o progresso de sadhu‐sanga e bhajana‐kriya a anartha‐nivrtti apresentando a grande potência espiritual do santo nome como o melhor processo de sadhana e enfatizando a importância de nos livrarmos dos anarthas por meio da evitação das dez ofensas contra o santo nome.


O terceiro verso ilustra o humor de profunda humildade de um devoto que alcançou o estágio de nistha, fé estável.


O quarto verso expressa a atitude de um devoto no estágio de ruci, o qual esquece seus desejos materiais e desenvolve devoção imaculada a Krsna.


O quinto verso retrata a oração de um devoto dotado de asakti, profunda afeição a Krsna, e que não anseia por nada senão Sua associação.


O sexto verso apresenta os sintomas extáticos de um devoto que obteve bhava, amor extático por Krsna.


O sétimo verso expressa o sentimento de separação (vipra‐lambha) de um devoto que, por fim, alcançou o estágio supremo de prema, amor puro por Deus. 

Finalmente, o oitavo verso é a oração do devoto em prema‐bhakti, o qual possui plena realização de sua relação individual eterna com Krsna e experimenta sambhoga, associação direta com o Senhor.


Srila Bhaktivinoda Thakura conclui esta descrição em seu Bhajana‐rahasya com o seguinte pedido: 

Ó irmãos, o santo nome jamais perde qualquer potência quer no estágio de prática quer no estágio de perfeição; cantem o santo nome, portanto, e considerem tal cantar o seu único objetivo, sem levar em consideração nenhuma outra forma de sadhana.



A.C. Bhaktivedanta Svami Prabhupada





SUMÁRIO

Em todos os oito slokas do Siksastaka, os três princípios de sambhandha, abhidheya e prayojana foram explicados por intermédio de abhidheya. No primeiro sloka, o processo (sadhana) de Sri‐krsna‐sankirtana foi descrito de maneira geral; no segundo, apresentou‐se a consciência da própria inaptidão para a execução da tão‐excelente forma de sadhana anteriormente apresentada; no terceiro sloka, ensinou‐se o método para se cantar o santo nome; no quarto, apresentou‐se a necessidade da pessoa se livrar de desejos desfavoráveis (pratikula vancha) e da frustração (kaitava) na forma da busca por moksa; no quinto, introduziu‐se a identidade espiritual original da jiva (svarupa‐jnana); no sexto, apresentou‐se como a pessoa experimenta a boa fortuna de se aproximar do Senhor; no sétimo, descreveu‐se o humor de separação (vipralambha) naqueles que obtiveram qualificação superior; e no oitavo e último, apresentou‐se como obter a perfeição mais elevada da busca pela meta absoluta pessoal (sva‐prayojana).

Nos primeiros cinco slokas, instruções referentes a sambandha‐jnana, ou o conhecimento referente à nossa eterna relação com o Senhor Supremo e a Suas potências multifárias, foram apresentadas pelo intermédio de abhidheya. Em todos os oito slokas, o princípio de abhidheya, ou prestação de serviço devocional, foi descrito. 

Nos três slokas finais, encontram‐se instruções referentes a prayojana, ou a meta última.
Os primeiros cinco slokas descrevem sadhana‐bhakti, os dois seguintes, bhava‐bhakti. Os slokas do sexto ao oitavo, e especialmente o sétimo e o oitavo, lidam com prema‐bhakti.

Com a apresentação do seguinte sloka composto por Srila Visvanatha Cakravarti Thakura, verso este que expressa os meus sentimentos, ofereço minhas reverências aos pés de todos os leitores e encerro minha dissertação:

aradhyo bhagavan vrajesa‐tanayas‐tad‐dhama vrndavanam
ramya kacid‐upasana vraja‐vadhu‐vargena ya kalpita
srimad bhagavatam pramanam‐amalam prema pumartho mahan
sri caitanya mahaprabhor‐matam‐idam tatradaro nah parah

“A Suprema Personalidade de Deus, Sri Krsna, o filho de Maharaja‐nanda, e Sua morada transcendental, Sri Vrndavana‐dhama, os quais se constituem ambos da mesma substância espiritual, são o meu objeto de adoração. O mais excelente método de adoração a Krsna é o método adotado pelas jovens e belas vaqueirinhas de Vraja, e o Srimad‐Bhagavatam é completamente imaculado (nirmala) e a mais autorizada de todas as escrituras (sabda‐pramana). 

Krsna‐prema é a quinta e mais elevada aquisição da vida humana (pancama‐purusartha ou parama‐purusartha), superior às quatro metas védicas de dharma, artha, kama e moksa. Tal é a opinião conclusiva do Senhor Caitanya, conclusão esta que é absolutamente estimada e favorecida por nós. Pelas demais opiniões, não temos nem interesse nem respeito”.




Extraído do Livro 
Sri  Sri Siksastaka
‐ Sociedade Internacional para a Consciência de Krsna ‐
Composição
Sua Onipotência Sri Krsna Caitanya Mahaprabhu
Comentários
Sua Divina Graça Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura
Tradução
Bhagavan dasa (DvS)

MANTRA AVALOKITESHVARA:




MANTRA AVALOKITESHVARA:

Letra do Mantra de Avalokiteshvara:

Namo Ratna Trayaya Namo Arya Gyana Sagara Berotsana Buha Radzaya Tathagataya Arhate Samyaksam Buddhaya Namo Sarwa Tathagatabhye Arhatebye Samyaksam Buddhebye Namo Arya Awalokite Shoraya Bodhisattoya Mahasattoya Mahakarunikaya Tayatha Om Dara Dara Diri Diri Duru Duru Itte Wate Tsale Tsale Partsale Partsale Kusume Kusume Ware Ihlimili Tsitti Dzola Apanaye Soha.


Foi dito no Sutra que se alguém cantar este mantra sinceramente 108 vezes a cada manhã entre as 4 hs e as  7 hs - por um período de duração de 3 meses sem qualquer interrupção,   Avalokitesvara Bodhisattva aparecerá em pessoa na frente deste praticante e lhe concederá  seus bons desejos.


Tal com AVALOKITESHVARA desce no mundo, e como cada raio de sua compaixão é semelhante a uma mão auxiliadora estendida aos que necessitam de ajuda, assim cada sílaba do seu mantra está repleta com a força e a devoção do seu amor. Por isto é perfeitamente natural que as seis sílabas sagradas estejam concebidas em justaposição às seis esferas, de cujos sofrimentos elas são os meios de socorrer, liberando os seres das suas ilusões e apegos. Para os que se abrem à força do mantra, isto é, para os que não só acreditam na sua eficácia, mas os que preenchem com a força da sua própria devoção, não é suficiente guardar em mente, somente a sua própria salvação, mas precisam igualmente serem movidos pelo desejo de contribuir para as possibilidades de liberação de todos os outros seres viventes.

Devido a esta razão, o Sádhaka - após ter percorrido os vários planos e etapas da realidade espiritual, contidos no mantra - volta sua mente para as diferentes classes de seres, e enquanto pronuncia uma das seis sílabas sagradas, dirige a sua atenção à uma destas seis esferas.

Assim, cada sílaba torna-se um veículo para a realização da força compassiva deAVALOKITESHVARA, e ao mesmo tempo o Sádhaka torna-se consciente da natureza insatisfatória de cada um destes estados de existência. Por isto se diz que, quando se recita a fórmula sagrada com o coração sincero, isto não pode ser somente uma bênção para todos os seres viventes, mas pode ao mesmo tempo fechar os portais do renascimento naquelas esferas para o Sádhaka. Porque estados de existência, que originaram nossa compaixão, perderam seu atrativo para nós, por maior que nossa simpatia possa ser. Daquilo que nós queremos libertar os outros, não pode ser mais para nós, objeto de desejo.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

VEDAS




Introdução

A palavra sânscrita Veda é derivada do radical Vid, que significa conhecer. De Vid vem Vidyaa, que significa um trabalho que concede conhecimento. Portanto, Veda significa Conhecimento. Os Vedas são um estoque de conhecimento - tanto do mundo físico, quanto espiritual.
Os Vedas e as Vedaangaas (Ciências Védicas) abrangem Música, Literatura, Física e Química, Botânica e Biologia, Matemática, Engenharia e todo conhecimento relacionado a este mundo, assim como o conhecimento espiritual relacionado ao nosso Eu interior.
Os Vedas não têm Origem Humana
Os Vedas também são chamados de apaurusheya - de origem não humana. Os sábios cujos nomes estão associados com várias canções não são os compositores das canções. Eles são meramente os instrumentos que viram (ou ouviram) as canções. Tanto que, os sábios são as vezes considerados como profetas ou videntes. Os profetas védicos têm o nome de matra-drashtaas. Um drashtaa é aquele que vê.
Quando os sábios estão meditando, os mantras dos Vedas aparecem para eles, na forma de um lampejo, em seus corações. Enxergar ou olhar não significa única e exclusivamente o que os olhos podem distinguir e compreender. É algo que supera todas as formas de percepção e todas as formas de cognição.
Quando dizemos que um homem já viu todo tipo de sofrimento em sua vida, implicaria que o termo ver seria somente aquilo que ele viu com seus olhos? O termo mantra-drashtaa também poderia ser aplicado em uma maneira similar referindo-se àquilo que é compreendido através de uma visão interior. Os sábios eram capazes de ouvir os Vedas em seus corações.
"Os riks (mantras dos Vedas) alcançaram a mais alta realidade, o vazio mais luminoso, onde todos os deuses estão firmemente estabelecidos. Se alguém não sabe disso, a mera entonação dos riks não servirá para propósito algum. Os riks residem no Imutável, Supremo Espaço Celeste onde todos os deuses estão sentados. O mantra não tem utilidade alguma para aquele que não sabe disso"
~ Rig Veda

Os Vedas são Infinitos e Atemporais

Os Vedas também são considerados como anantaa e anaadi - infinito e atemporal. Isaac Newton, através de seu árduo trabalho, inteligência e experimentos, descobriu que há um poder de atração chamado gravidade, que é natural da Terra. A partir daquele dia, nós passamos a acreditar que a Terra tem o poder de atração. A Terra não tinha este poder de atração antes de Newton?
Na verdade, desde a origem da Terra , sempre existiu o seu poder de atração. Da mesma maneira, os Vedas são a respiração da vida dada a nós através de Deus e existem desde o início dos tempos. Os Rishis são os profetas dos Vedas. Se os Rishis tivessem composto os Vedas, eles não poderiam ser chamados anaadi. Portanto, eles não os compuseram. Os Vedas não têm autoria humana. Rishis são apenas os drishtaas (videntes e descobridores), não os kartaas (criadores ou compositores).
Isto é similar a Colombo descobrindo a América - ele não criou a América, ela já existia muito antes dele a descobrir. Ele simplesmente fez com que o continente fosse conhecido pelo mundo. Igualmente, os Rishis são apenas os receptores do que existe no Universo na forma de sons.

Os Vedas são Universais

"Está a gravidade da Terra limitada ao país ao qual Newton pertencia? Quando pessoas inteligentes que pertencem a um país descobrem algo relacionado à Natureza, aquele conhecimento é para o mundo todo.
Da mesma forma, o conhecimento dos Vedas são universais e devem ser disponibilizados para pessoas do mundo inteiro.Os Vedas não fornecem nenhum espaço para distinção baseada em religião ou nacionalidade. Eles prometem proteger todos aqueles que seguem as prescrições védicas.
Quem quer que caminhe mais próximo aos Vedas, os Vedas (e os princípios védicos) irão caminhar mais próximo destes. Os Vedas exaltam o Deus Único do Universo com diferentes nomes. Desde quando o mais antigo Rishi não tinha tido a oportunidade de apresentar os Vedas por meio de um ângulo coletivo, os Vedas têm sido submetidos a concepções distorcidas e críticas.
No entanto, se alguém estava a reconhecer a interpretação mais ampla subjacente dos mantras védicos, então não há lugar algum para estas distorções. O mais antigo Rishis penou para entender a verdade escondida nos Vedas.
As vibrações de suas práticas espirituais se espalharam Universo afora. Eles não são limitados à Índia (Bharat) ou a qualquer outro lugar em particular. Eles podem ser praticados em qualquer lugar do mundo, tanto na América quanto na Austrália. Sendo uma personificação da Verdade, eles não mudam de acordo com o tempo ou o lugar"
Sathya Sai Baba

Os Vedas, por si próprios, nos ensinam sobre sua universalidade.

Que a Terra com pessoas que falam diversas línguas, e que têm diversas religiões, independente de seus lugares de permanência, emane de tesouros a Mim, através de mil córregos como uma vaca fiel que nunca há de desapontar.
Atharva Veda